QUANDO O VERBO AJUDA O AMOR

Texto adaptado de Floriano Serra

Em maio, muita gente casou, junto escovas, como queiram. Fica aqui nossa maior torcida para que novas e belas histórias de amor estejam começando ou se consolidando. Para garantir, não custa nada dar uma espiadinha em alguns verbos que ajudam a entender por que alguns casamentos dão certo e outros não.

Certamente muitas razões podem influir para que a viagem amorosa que está começando seja navegada em mares tranqüilos ou revoltos. Não há fórmulas infalíveis para que tudo dê certo, mas com certeza há alternativas de comportamento que podem facilitar as relações. Vamos recorrer a alguns verbos.

  • Falar – Ah, como é importante cada parceiro expressar ao outro seus sentimentos. Todos. Seja para dizer “te amo”, seja para dizer “você me magoou”. Nenhum parceiro é telepata, não vai ler seus pensamentos – logo, é preciso verbalizá-los para que se tornem objeto de diálogo. Muitas relações literalmente afundam porque usam a metáfora do iceberg. Só cuidam da pontinha externa do problema, aquela que aparece na superfície e muitas vezes é levada na brincadeira – mas deixam de administrar seriamente a essência do problema, aquela imensa quantidade que está submersa. E porque não aparece, nunca é discutida – como jogar as cinzas debaixo do tapete. Quanto mais o casal expressar seus sentimentos e pensamentos, menor será o pedaço oculto do iceberg.
  • Ouvir – Um parceiro só conseguirá falar se o outro se dispuser a ouvir. Alguns parceiros de relações que já estão se esvaindo, costumam falar para as paredes ou para seus próprios botões porque o outro está “ausente”, mesmo estando presente. Ouvir significa estar ligado, no aqui e agora. Olhos nos olhos – e não no jornal ou na televisão. Este é um verbo importante: ouça atentamente seu parceiro e leve a sério o que ouve, por mais fútil, superficial ou incorreto que você considere. Respeite a sensibilidade dele. Depois você poderá fazer seus comentários a respeito e então será a vez do outro ouvir.
  • Compreender – Cada pessoa julga ter suas verdades e as defende com unhas e dentes, muitas vezes aos gritos. Ora, sabemos que toda verdade é relativa e por isso precisa ser constantemente reavaliada, contestada e às vezes até reformulada. É preciso que o parceiro pratique a empatia, ou seja, se coloque no lugar do outro para procurar entender suas razões. Pode até acontecer que você não concorde com os motivos que o parceiro alega, mas isso não quer dizer que você esteja certa e ele errado. São apenas pontos de vista diferentes. Muitas discussões e conflitos conjugais acontecem porque um dos parceiros, ao começar o “diálogo”,  já está previamente decidido a não aceitar as explicações do outro. Para concordar ou discordar, é preciso ouvir e refletir a respeito, levando em conta as motivações do parceiro.
  • Negociar -. Uma relação tem muito mais oportunidades de sobreviver quando os seus parceiros estão dispostos a fazer concessões. Ao se unir a outra pessoa, nenhum dos parceiros precisa abrir mão das suas características e hábitos pessoais; é o que se chama “manter a individualidade”. Um casal é constituído por dois indivíduos  e não por duas cópias.  Portanto, haverá diferenças individuais entre o casal, E para que tais diferenças não afetem a harmonia da relação, É preciso que sejam administradas através de uma negociação que satisfaça a ambos. Não funciona mais essa historia do “eu sou assim e se me quiser tem que ser assim”. Cada um deve procurar agir de forma a preservar e reforçar cada vez mais a relação sem invadir os direitos do outro, mas também sem se sentir invadido.
  • Namorar – Este é o verbo óbvio. Independente de quanto tempo esteja junto, o casal precisa e deve namorar – cada um no seu estilo e na sua intensidade. Do período do namoro ao do casamento, as emoções não desaparecem, apenas mudam de essência, foco e características. A sedução, o desejo, o carinho – tudo isso deve e pode ser preservado ao longo dos anos – desde que o casal mantenha motivação e criatividade para isso. Tudo numa relação pode ser inovado, reformulado e reconstruído. Se houver amor, claro.

Na verdade, o Amor usa muitos verbos para contar sua história, mas por enquanto vou limitar-me a apenas estes cinco.

Floriano Serra é psicólogo clínico e organizacional, consultor, palestrante e presidente da SOMMA4 Consultoria em Gestão de Pessoas e do IPAT – Instituto Paulista de Análise Transacional. Foi diretor de Recursos Humanos em  empresas nacionais e multinacionais, recebendo vários prêmios pela excelência em Gestão de Pessoas. Anteriormente, já atuou como psicoterapêuta de adultos e casais. É autor de uma dezena de livros e mais de 200 artigos sobre o comportamento humano – pessoal e profissional, publicados em websites, jornais e revistas, inclusive no Exterior.

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AMOR E CHANTILLY

Não há a menor dúvida de que, em essência, o amor é uma coisa muito séria. Mas é preciso entender que a seriedade dessa essência não precisa necessariamente ser imitada pelas suas formas de expressão. A prática demonstra que, na sua manifestação, o amor deve ser descontraído e informal. A formalidade do amor está no seu comprometimento, na sua força, na sua lealdade – mas os atos e gestos através dos quais esse amor é expresso e vivenciado a cada dia, não precisam ter a sisudez de um ato solene, de um cerimonial.

Amor tem tudo a ver com alegria, descontração, criatividade, leveza e prazer. A falta de sorriso nas relações pode ser um forte indício de que as coisas não vão bem entre o casal. Afinal, como se diz popularmente, o amor é uma gostosa brincadeira a dois – e essa expressão “brincadeira” nada tem a ver com irresponsabilidade e em nada compromete a seriedade do sentimento.

Alguns parceiros parecem não pensar assim. Quando terapeuta, não foram poucas as vezes que escutei queixas e desabafos quanto à “seriedade” do outro. Num casal “sério”, a relação fica muito  “pesada” e estressante, porque os diálogos abordam quase sempre questões financeiras, saúde, problemas profissionais, planos e projetos de comprar/vender/trocar, compromissos sociais, discussão sobre os filhos, escolas, parentes… Não que esses assuntos não devam fazer parte da vida a dois. Devem e são importantes – mas não podem ser exclusivos, não podem ser os únicos temas de conversa entre os parceiros.

Em certas ocasiões, “jogar conversa fora” deve fazer parte da pauta do dia. Onde ficam as brincadeiras, as piadas, as travessuras, as chamadas “abobrinhas”, os papos supérfluos, irrelevantes e descompromissados que devem fazer parte da vida de todo casal? Estou sendo repetitivo ao lembrar que todas as pessoas, independente da idade, têm uma Criança interior, que é o princípio ativo da nossa felicidade, das nossas emoções e nossa da vibração pela Vida.

É nossa Criança interior que sorri, gargalha, nos dá prazer e nos desestressa. Essa Criança, emotiva e sensorial, não pode jamais ser desprezada pela inegável necessidade que todos temos de usar a lógica, a racionalidade e os valores. Mas esses fatores não são excludentes – eles se complementam e devem todos ter espaço em nossos momentos, de forma compartilhada.

A relação amorosa, claro, deve ser encarada como uma coisa séria – como todos os projetos da vida que exigem dedicação, esforço e comprometimento. Mas só isso não garante a felicidade e a manutenção do amor bastante – que não pode abrir mão das gratificações e realizações emocionais, que geralmente são de competência da nossa Criança interior, afetuosa, travessa e às vezes considerada “ridícula”.  Nas manifestações do amor, é fundamental não ter medo de parecer ridículo. Lembremos que “todas as cartas de amor são ridículas. Se não o forem, não serão cartas de amor” – como disse Fernando Pessoa.

Os casais que se amam bastante não devem ter inibições ou medos de parecerem ridículos em suas manifestações amorosas. São nesses momentos que a cumplicidade afetiva mais se fortalece – e a relação também. Esse ridículo é o tempero do amor e, como sabemos, as coisas bem temperadas são muito mais saborosas. Por isso, há que se enfeitar as manifestações amorosas – todas elas: da simples declaração por telefone, àquela por carta, e-mail ou pessoal – inclusive na cama.       

Ou seja: há que se acrescentar chantilly ao amor. Ele fica mais doce, mais gostoso, com gostinho de “quero mais”. E para isso, ninguém precisa de talentos especiais nem dotes culinários. É aqui que entra a criatividade: seja espontâneo, ousado, inovador, faça e diga coisas que nunca fez ou, até onde saiba, ninguém jamais fez. Seja diferente na sua forma de amar. Certamente há um limite, que é o respeito ao outro e à sociedade.

Respeitados  esses limites, viva o amor e chantilly nele!

Texto publicado no site: http://www.portaldafamilia.org.br