Olá, Pessoal!!
Tudo bem com vocês? Espero que sim… Finalmente uma amiga nossa, que tanto participa aqui nos comentários resolveu nos presentear com seu texto.
Vania Vianna é uma dessas pessoas apaixonantes, casada, 46 anos, ela é de São Gonçalo RJ. Nossa amiga adora ler, escrever, uma de suas grandes paixões é cuidar de crianças carentes.
Ela é professora, atualmente está fazendo graduação em Pedagogia. Vania tem um blog onde escreve muito sobre prevenção à violência infantil, ela ministra palestras e seminários para pais e educadores sobre esse assunto, não deixem de dar uma passadinha no blog dela: www.vaniavianna.blogspot.com.
Nossa amiga tem um livro publicado com o nome de do Pranto à Alegria, quem tiver interesse em conhecer sobre a obra pode visitar o blog dela. Espero que gostem do texto que nossa amiga nos enviou, porque eu simplesmente amei.
Vania, obrigado pelo carinho e por participar!! Que Papai do Céu te abençoe sempre!!
QUANDO ENTRAMOS NA CAVERNA
Davi fugiu da cidade de Gate e foi para a caverna de Adulão. Quando seus irmãos e a família de seu pai souberam disso, foram até lá para encontrá-lo. Também juntaram-se a ele todos os que estavam em dificuldades, os endividados e os descontentes; e ele se tornou o líder deles. Havia cerca de quatrocentos homens com ele. De lá Davi foi para Mispá, em Moabe, e disse ao rei de Moabe: “Posso deixar meu pai e minha mãe virem para cá e ficarem contigo até que eu saiba o que Deus fará comigo? ” E assim ele os deixou com o rei de Moabe, e lá eles ficaram enquanto Davi permaneceu na fortaleza.Contudo, o profeta Gade disse a Davi: “Não fique na fortaleza. Vá para Judá”. Então Davi foi para a floresta de Herete. (I Samuel 22: 1-5.)
Essa passagem traz para mim uma mensagem de profunda reflexão. É verdade que todos nós, vez por outra, nos escondemos numa Caverna de Adulão. É fato que vivemos diversas experiências em nossa jornada e muitas vezes o se esconder é um recurso necessário para refazer as forças, repensar atitudes, etc.
Em meu caminhar lidando com algumas situações de dor, já me escondi algumas vezes na “caverna”. Na verdade, a dor do próximo é, por vezes, tão intensa que se torna a nossa dor e como somos limitados, não conseguimos sequer agir como gostaríamos.
A caverna de Adulão nos reporta ao nosso limite humano. Lidar com a nossa humanidade não é fácil porque às vezes achamos que somos um pouco de mulher-maravilha, que suportamos tudo e vamos prosseguindo sem parar. Ledo engano. Muitas vezes é preciso parar mesmo, é preciso se refazer, se proteger e se permitir descansar. Sentir medo não é vergonha nem sinônimo de fraqueza, como talvez alguns pensem. Sentir medo é a nossa humanidade latejando, gritando que ela existe e é natural.
Vivi, recentemente, uma experiência que me mostrou isso claramente. Descobri-me portadora de uma doença autoimune chamada alopécia areata, uma queda de cabelos intensa localizada, decorrente de um nível alto de estresse. Não é uma queda de cabelos que vemos quando nos penteamos, como de costume, é algo bem maior do que isso. Fiquei careca em alguns pontos e foi por demais chocante. O cabelo ficou ralinho e duas peladas grandes surgiram no alto da cabeça. Aí começou uma série de questionamentos e por quês, pois eu estava em plena atividade profissional, estudantil e ministerial. Como entender isso? Como assimilar o fato de ter que parar? Pensei em parar a faculdade, deixar de dar minhas palestras (falo sobre prevenção à violência infantil em escolas e igrejas), sair do trabalho… Refugiei-me na “caverna”. Parei. Senti o que estava acontecendo. Chorei.
Há um ano eu trato dessa doença com a dermatologista. Faço acompanhamento psicológico e procuro viver melhor. A causa diagnosticada foi estresse, já que os exames não comprovaram outra enfermidade associada. Não foi fácil no começo, eu olhava minha cabeça a todo instante, chorava diante do espelho, ficava me imaginando totalmente careca, etc. Tudo isso, creio, quem é portador da alopécia passa. Mas algo me chamou a atenção recentemente e isso gostaria que servisse de alerta a todas nós que sofremos disso. Minha filha de dez anos era quem me acompanhava mais de perto. Quando eu saia do banho era ela quem me observava e me ajudava a examinar o cabelo, era ela quem me via chorar e tentava me consolar. Ela é muito esperta e como temos uma relação de mãe e filha muito legal, passei, sem querer, a fazer dela minha melhor amiga para extravasar minha dor.
A conseqüência foi que, ao final de quase um ano, minha filha começou a apresentar indícios de ansiedade e insônia. Começou a ter um comportamento inseguro demais, preocupada se eu iria morrer, um pavor de uma eventual perda da mãe. E esse foi o ponto-chave para que eu despertasse. Percebi que estava transferindo minha dor para minha filha e isso deixou-me arrasada. Mas, creio, foi o que Deus usou para me despertar e fazer-me sair da “caverna”. A gente que é mãe sabe o valor dos nossos filhos e o quanto não permitimos vê-los sofrendo, ainda mais se for por nossa causa. Fui fortalecida por uma coragem divina e tive meu ânimo renovado. Parei de me lamentar e passei a agradecer o sucesso lento que eu estava obtendo com o tratamento. Passei a valorizar os fiozinhos que estavam nascendo. Passei a enxergar o quanto, em meio a tudo isso, eu estava sendo sustentada por Deus, que enviara os recursos materiais e humanos para essa etapa. Sabe, “tocar” de certa forma, em minha filha, foi uma dor maior do que o meu lamento de perder cabelos.
Mas também nesse período percebi muitas pessoas que haviam passado essa experiência, já haviam saído de suas cavernas emocionais e estavam de volta à atividade. Eu me enriqueci com elas. Aprendi com suas experiências e, melhor, tenho aprendido com a minha própria experiência.
De sorte que a tal caverna é um lugar de refúgio, aonde vamos sendo tratados de diversos males. É um lugar necessário, creio, para olharmos o mundo por outro prisma. Davi, no texto acima, recebeu instruções para sair da caverna de Adulão. Lá era um lugar seguro, mas fora dela havia todo um povo para o qual ele seria bênção, ele seria orientador. Ainda que passemos um tempo assim com o rei Davi, e encontremos outras pessoas também nesse local de refúgio, há um universo nos aguardando, há vidas clamando por nós, esperando nossas atitudes. Sim, há vidas que poderemos ajudar.
Hoje, bem, hoje o cabelo já nasceu no local pelado. Ele ainda é fraquinho e um pouco ralo. Ainda cai quando penteio, mas não muito. Continuo meu tratamento dermatológico e psicológico. Mas a minha fé foi fortalecida no Deus que eu sirvo. Ele não me impediu de vivenciar essa situação, mas tem me livrado dia a dia, dentro dessa situação, suprindo minhas necessidades. Isso é maravilhoso. Minha filha superou essa fase e se diverte comigo. É uma menina muito inteligente.
Então, nada de errado em nos escondermos por um tempo na caverna, mas não por todo o tempo. Sejamos fortalecidos e prossigamos!…
Vania Vianna M. Cunha