Matéria extraída do site: http://saude.hsw.uol.com.br
Há algumas coisas que temos como verdades simples, absolutas e simplesmente nos conformamos com elas, sem questioná-las. Quando deixamos cair um lápis, por exemplo, ele vai para baixo e não para cima. Ao entardecer o sol se põe e pela manhã ele nasce. E quando nós suamos, um líquido claro sai de nossos poros. Esses são exemplos de coisas que simplesmente nos deixam confortáveis porque podemos prevê-las.
Dessa maneira podemos imaginar como foi desconcertante para uma enfermeira de 26 anos quando ela começou a suar “vermelho” no final dos anos 1990. Depois de cinco meses de muita preocupação e luta para tirar manchas de sua roupa, ela enfim resolveu buscar ajuda médica. Os médicos colheram o suor do seu sebo (óleo natural que hidrata nossa pele e cabelo) utilizando éter para separar o suor do resto dos materiais. Eles então compararam o resultado com as roupas manchadas da enfermeira e descobriram que se tratava de um caso de cromidrose.
Cromidrose é uma rara condição na qual a pessoa excreta suor colorido. O suor pode ser produzido em qualquer um dos dois tipos de glândulas sudoríparas (mais sobre o assunto na próxima página). A cromidrose é diferente da outra condição, conhecida como pseudo cromidrose, na qual o corpo produz o suor claro, porém, este se mistura com um agente de coloração quando alcança a pele [fonte: Musel – em inglês]. O caso mais clássico de pseudo cromidrose é o que acontece com os mineiros que trabalham em minas de cobre e excretam suor azul – o mineral se mistura ao suor na pele causando a pigmentação. A literatura diz que normalmente os sintomas de pseudo cromidrose desaparecem quando o paciente deixa de ter contato com o produto ou atividade que o ocasionaram. Mas o que exatamente é a cromidrose, na qual o suor colorido é produzido dentro do corpo?
Suor colorido (de onde ele vem?)
Nós temos dois tipos de glândulas sudoríparas em nossos corpos. As glândulas écrinas são encontradas principalmente na testa, palma das mãos e sola dos pés e excretam principalmente água e sais. Essas glândulas desempenham um importante papel na regulagem da nossa temperatura interna, controlada pelo hipotálamo. Já o suor excretado pelas glândulas sudoríparas apócrinas contém água, gordura e resíduos de nosso metabolismo corporal. A grande maioria dessas glândulas concentra-se ao redor dos órgãos genitais, mamilos e axilas e são desencadeadas por respostas emocionais. A cromidrose pode ocorrer nesses dois tipos de glândulas.
A quantidade, localização e cor do suor excretado ajudam a diagnosticar o tipo de cromidrose. Normalmente a cromidrose apócrina é encontrada na face, axilas e ao redor do peito. A cromidrose proveniente das glândulas écrinas aparece na palma das mãos e sola dos pés. Pacientes com cromidrose écrina podem excretar suor de qualquer cor (como veremos mais para a frente) e normalmente em grandes quantidades. Já os casos de cromidrose apócrina envolvem uma quantidade menor de suor produzido, que tende a aparecer ao redor dos mamilos e nas axilas.
A cromidrose apócrina resulta somente em suor amarelo, verde, azul, preto e marrom. Eis a razão: quem está por trás da cromidrose apócrina é a lipofucsina. Trata-se de um pigmento que é um subproduto da oxidação de lipídios (gordura) em alguns tipos de células. A lipofucsina pode ser produzida nas glândulas apócrinas e quando isso ocorre em concentração alta o suficiente, acaba colorindo o suor que é excretado por essas glândulas.
Quando o suor excretado é amarelo, verde ou azul, o diagnóstico de cromidrose apócrina é simples. Os médicos examinam o suor e a roupa manchada sob uma lâmpada de Wood (ultravioleta ou luz negra). A lipofucsina fica fosforescente na luz, revelando sua causa. Por outro lado, realizar o diagnóstico quando o suor é marrom ou preto é um pouco mais complicado porque, embora o suor seja colorido pela lipofucsina, ele já está muito oxidado quando alcança o pigmento e não apresenta fluorescência sob luz negra.
Para diagnosticar a cromidrose écrina (que é mais rara do que a apócrina) um histórico do paciente é o que há de melhor para o médico. Na maioria dos casos, esse tipo de cromidrose é resultado da ingestão de um corante ou pigmento. A enfermeira que comentamos na página anterior foi diagnosticada com cromidrose e foi encontrado em seu suor pó de tomate e pimentão provenientes de uma embalagem de alimento que continha esses ingredientes. Os médicos compararam a comida ao seu suor colorido e descobriram o culpado. Os ingredientes eram solúveis e estavam sendo excretados pelas suas glândulas écrinas.
Tratando a cromidose
Quando os médicos diagnosticam a cromidrose e contam aos pacientes, o diagnóstico é acompanhado da certeza de que se trata de uma condição benigna, indolor e que não leva a nenhuma outra doença. Se o paciente perguntar ao médico como tratar a cromidrose, no entanto, deve perdoá-lo se o mesmo “der de ombros”.
O primeiro caso de cromidrose foi documentado em 1709, e desde então não houve muitos outros. O mistério continua – em 2008 foi descoberto o primeiro caso de paciente com suor alaranjado. Por causa da raridade da cromidrose, a etiologia (causa da doença) é desconhecida.
O tratamento para a cromidrose écrina é relativamente fácil. Uma vez que o médico tenha identificado o agente responsável pelo pigmento, a simples descontinuidade na sua exposição a ele faz com que a condição desapareça com o passar do tempo.
Porém, não é isso que acontece na cromidrose apócrina. Como a medicina não foi capaz de concluir porque a lipofuscina acumula-se nas glândulas, não há o que se possa fazer para impedir a sua excreção. No entanto, isso não impediu os médicos de continuarem tentando alguns tratamentos, às vezes, com algum sucesso. O melhor que a ciência conseguiu chegar até agora foi retardar a excreção do suor.
Nesse sentido, um tratamento que tem dado resultado positivo é a capsaicina, uma versão sintetizada de um derivado da pimenta. Trata-se de um creme de uso tópico usado com frequência para aliviar a dor em casos de artrite. A capsaicina é eficaz no retardo da cromidrose uma vez que retarda a absorção da substância P, um importante neurotransmissor na produção de suor nas glândulas apócrinas.
Outros dermatologistas e médicos voltaram suas atenções para a botulina, toxina usada no Botox e Myobloc. A toxina também afeta os neurotransmissores que agem no suor produzido pelas glândulas écrinas e apócrinas.
No fim das contas, buscar uma resposta na própria glândula é o que parece ser a melhor opção para quem sofre de cromidrose. Através de um método manual ou químico, obriga-se a glândula a suar, clareando a lipofuscina e aliviando o paciente. Esse alívio, no entanto, não dura para sempre – o suor colorido normalmente volta em alguns dias. O único tratamento comprovadamente eficaz é a remoção física das glândulas que concentram e excretam lipofucsina.