Texto de Paulo Franklin
Estou cansado de conviver com caricaturas de amigos. Pessoas que se aproximam do outro com o objetivo de captar seus interesses. Falsas amizades, iniciadas por conta da necessidade, e por isso fadadas ao esquecimento. Amizades assim nem deveriam existir, mas é impossível reconhecer um falso amigo à primeira vista. Julgar não, mas ser prudente sim.
Já vi muita gente sofrer por confiar demais em alguém. Revelaram seus segredos, abriram seu coração para uma pessoa que não merecia tal confiança. Toda vez que nos relacionamos com alguém, corremos o sério risco de nos esquecer quem somos e endeusar a pessoa que, aparentemente, preencheu nosso vazio interior.
Não vale à pena manter amizades à custa de aparências. Se não posso ser aceito pelo outro pelo que eu sou (e só pelo que eu tenho a oferecer), nenhuma vantagem me restará em manter esta relação. Quando os dois não podem sair ganhando, certamente o outro obterá muito mais do que poderia ou deveria.
Mas o que é ser um amigo verdadeiro? É ser verdadeiro, sempre. Como bem lembrou Santo Agostinho: “nem sempre o que é indulgente conosco é nosso amigo, nem o que nos castiga, nosso inimigo. São melhores as feridas causadas por um amigo que os falsos beijos de um inimigo. É melhor amar com severidade a enganar com suavidade”. Ser amigo é livrar-se das máscaras para saber se o outro está a fim de conviver com este alguém, mesmo que doa.
Amizades interesseiras não sobrevivem ao calor dos desentendimentos. Bastará uma palavra áspera para afastar quem não vive comprometido com nosso jeito de ser. Amigo que é amigo não calcula os bens que obterá com essa ou aquela amizade, mas todo bem que este ou aquilo amigo pode lhe proporcionar.