Por Adriana Balthazar
Olá pessoal tudo bem? Espero que sim.
Dentre as minhas intermináveis pesquisas sobre Alopecia encontrei esse trabalho de revisão e atualização sobre vários aspectos da Alopecia Areata. É do ano de 1998, mas a leitura vale a pena.
Aproveitem!!!
Bjinhos, Drica
ALOPECIA AREATA – Dermatologia Atual 1998;4(4):10-12
Marcia Ramos e Silva – Professora Adjunta, Doutora em Dermatologia – UFRJ; Serviço de Dermatologia, Hospital Universitário Clementino Fraga Filho – HUCFF/UFRJ; Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ.
Apresentado no Simpósio sobre Patologia do Pêlo na XVII RADLA, Montevidéu, Uruguai, 1996.
Resumo: Trabalho de revisão e atualização sobre vários aspectos da alopécia areata, entre eles, os clínicos, histopatológicos, fisiopatogênicos, imunológicos e terapêuticos.
A alopecia areata pode ser definida como perda de cabelo, microscopicamente inflamatória, em placas bem delimitadas, que afeta, em especial, o couro cabeludo e/ou a barba. É bastante comum, sendo responsável por 2% dos atendimentos ambulatoriais na Inglaterra e Estados Unidos. Inicia-se em qualquer idade, com pior prognóstico na infância; ocorre em ambos os sexos, mas é mais freqüente na faixa etária entre a terceira e a quarta década. Há períodos de remissão espontânea e recidiva. Seu curso é imprevisível, polimórfico, com diferenças tanto quantitativas quanto qualitativas entre as recidivas e os pacientes. Seus mecanismos desencadeantes são obscuros e, nos dias de hoje, é considerada síndrome clínica heterogênea e não como entidade única.
As placas de alopecia são bem circunscritas, arredondadas e assintomáticas. Na sua periferia podem-se notar cabelos curtos e quebrados, mais finos proximalmente, o que dá o aspecto denominado de cabelo em ponto de exclamação.
A classificação até hoje mais aceita é a de Ikeda (1965), que divide a alopecia areata em quatro tipos:
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Tipo 1: denominado comum, ocorre em 83% dos casos. Tem, em geral, curso total de menos de três anos, com placas individuais por, no máximo, seis meses. Acomete indivíduos na faixa dos vinte aos quarenta anos. Apenas 6% dos pacientes com o tipo 1 apresenta alopecia total.
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Tipo 2: seu início é na infância, e é responsável por dez por cento dos casos. É chamado de tipo atópico. O curso é arrastado, por mais de dez anos, e as placas individuais permanecem por mais de um ano. Setenta e cinco por cento desses pacientes têm alopecia total.
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Tipo 3: é o chamado tipo pré-hipertensivo, responsável por 4% das alopecias areatas. Acomete adultos jovens, cujos pais e/ou mães são hipertensos; tem, em geral, curso rápido, e a alopecia total aparece em 39% desses pacientes.
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Tipo 4: chamado combinado, é tipo menos freqüente, ocorrendo em 3% dos casos de alopecia areata. Esse tipo é, sem dúvida, causado por fenômenos de autoimunidade, tem início em torno dos quarenta anos, curso prolongado, e, em 10% dos pacientes, há alopecia total.
Os eventos celulares, reações fisiopatológicas e outros mecanismos patológicos que ocorrem no desenvolvimento da alopecia areata, ou seja, sua fisiopatogenia, são ainda controversos. A primeira hipótese é a de auto-imunidade: há aumento do número de linfócitos CD8+ periféricos, com bloqueio dos CD4+ e conseqüente aumento das respostas imunes a um ou mais auto-antígenos de células perifoliculares. Essa hipótese é favorecida pelo fato da alopecia areata ser doença sistêmica com envolvimento ungueal em cerca de 66% dos pacientes, por haver alteração de número e função das glândulas sudoríparas e dos linfócitos T e B do sangue periférico.
Outra hipótese é a genética, na qual a fisiopatogenia seria explicada por ceratinócitos geneticamente alterados que liberariam citocinas, com atração de células mononucleares, dessa maneira provocando reação imunológica secundária contra estruturas derivadas do ectoderma (cabelo, unha e cristalino). A favor dessa hipótese há história familiar positiva que varia de 10 a 50%, conforme a população avaliada. É descrita como de característica autossômica dominante, talvez com penetrância variável. Tem sido observada em gêmeos idênticos e não idênticos, simultaneamente ou não. A predisposição genética está relacionada ao complexo de histocompatibilidade e seria doença hereditária do cabelo mediada pelo linfócito T. Há uma família descrita nos Estados Unidos, na qual três indivíduos afetados apresentavam HLA-A2 e B40 ao contrário dos quatro não afetados. Na Itália, em seis pacientes, foi detectado HLA Aw32 e B18, enquanto outros estudos indicam HLA-B12, B18, DR4 e DR5. Os fatos já confirmados que relacionam a alopecia areata ao complexo de histocompatibilidade são: na forma persistente e recalcitrante há presença de HLA DR4 e DR5; existe sinergismo entre produtos gênicos de DP e DR na produção da doença e há associação negativa de Dqw6 e Drw52a, que atuam em conjunto para a resistência à doença.
Messenger (1986) descreve três fases na alopecia areata. Precocemente, o folículo encontra-se na fase telógena ou catágena tardia. Nas lesões estabelecidas, não há redução do número de folículos, e a razão anágena/telógena varia muito. Mais tarde, no início do crescimento, podem-se observar alguns folículos com várias hastes de cabelo fino.
Já Headington (1991) refere que, além de sempre haver infiltrado linfocitário peribulbar, há quatro fases na alopecia areata:
1. perda de cabelo aguda;
2. perda de cabelo persistente (crônica);
3. conversão parcial da fase telógena para anágena; e
4. recuperação normal.
A histopatologia, na fase aguda, mostra infiltrado perifolicular de linfócitos CD4+, com aumento de folículos catágenos, às vezes vasculite linfocítica focal, e alterações das células da matriz e dos melanócitos com formação de pêlos discrômicos e displásicos. Células de Langerhans e antígenos do complexo de histocompatibilidade classe I e II são observados na metade inferior do folículo, local onde normalmente estão ausentes ou em pouca quantidade.
Na fase crônica, o infiltrado perifolicular passa a ser predominantemente à custa de linfócito CD8+, e há diminuição do tamanho e do número dos folículos. A maior parte dos folículos encontra-se na fase catágena e telógena tardia, havendo conversão parcial da fase telógena para anágena. Observam-se incontinência melânica dentro dos folículos anágenos e cabelos finos e brancos nos pequenos folículos na fase anágena distrófica. Após vários anos de doença, pode haver diminuição da densidade folicular. Na recuperação normal os folículos já se encontram morfologicamente normais, podendo-se observar ainda infiltrado inflamatório perifolicular de linfócitos CD4+.
Na alopecia areata, estudos sobre moléculas de adesão de células endoteliais, que são as mediadoras da ligação da célula endotelial com o leucócito, mostram alta expressividade de ICAM-1, ELAM-1 e VCAM-1 nos vasos dérmicos. A molécula ICAM-1 encontra-se muito positiva no epitélio folicular, onde normalmente está ausente. Esses fenômenos permitem a entrada de monócitos/macrófagos e linfócitos T no epitélio folicular, além da alta expressão de ICAM-1 nos ceratinócitos induzir a produção de fator de necrose tumoral alfa (aTNF) e interferon gama (gIFN).
Algumas doenças auto-imunes podem estar associadas com a alopecia areata, entre elas síndrome de Sjögren, líquen plano, lúpus eritematoso, colite ulcerativa, líquen escleroso e atrófico, polimialgia reumática, miastenia gravis, anemia perniciosa, esclerodermia, por exemplo. Anormalidades da tireóide são encontradas em 59% dos pacientes com alopecia areata, em especial a tireoidite de Hashimoto e o hipertireoidismo. O vitiligo é encontrado em 4% dos casos de alopecia areata e em 1% de pacientes gerais. A alopecia areata é observada em seis de cada 100 pacientes com síndrome de Down, sendo total ou universal em 42% deles, justificada pelo aumento da auto-imunidade que ocorre nesta síndrome. Nos outros tipos de retardos mentais, acomete apenas um de cada 100 pacientes.
O estresse emocional, apesar de não comprovado, talvez esteja envolvido em alguns casos. Foi comprovado que, no início ou no curso da doença, 90% dos pacientes estão psicologicamente anormais, 29% têm fatores psicológicos e situações familiares estressantes. Isso não invalida a patogênese imunológica, pois sabe-se que condições de estresse psicológico grave podem levar a alterações das funções imunes.
A reatividade ectodérmica generalizada parece estar envolvida na alopecia areata, demonstrada pelo envolvimento de estruturas derivadas do ectoderma, que são cabelo, unha e cristalino. O envolvimento ungueal é observado em até 66% dos casos, dependendo das populações estudadas, podendo preceder ou seguir a alopecia areata. Provoca desde discreto pitting, linhas de Beau, estrias transversais e onicorrexis até distrofia total, que é tida como proporcional ao grau de perda de cabelo. Uma, várias ou todas as unhas podem ser acometidas.
Nos olhos, pode levar a catarata, mais comum em associação à alopecia total, à síndrome de Horner, à ectopia da pupila, atrofia da íris, e tortuosidade dos vasos do fundo do olho.
Em relação à imunidade humoral há ainda a demonstrar se existem anticorpos circulantes contra as células do folículo piloso e como se dá a resposta do linfócito B contra antígenos associados ao pêlo. Além disso, são necessárias pesquisas no sentido de definir as relações funcionais entre os ceratinócitos, dos ceratinócitos com a matriz e dos ceratinócitos com os imunócitos. São necessárias investigações sobre genética e fatores bioquímicos reguladores; tudo isso para que se possa vir a definir se a alopecia areata é doença auto-imune ou doença de ceratinócitos alterados, com ou sem interferência genética.
O tratamento dessa afecção é variado. Pode ser tentada a imunoterapia tópica, na qual se induz dermatite de contato, para que haja competição antigênica. Com esse fim podem ser utilizados o dinitroclorobenzeno, já não tão em uso por ter ação mutagênica e poder atuar como cocarcinógeno, o dibutilester do ácido esquárico, o diphencyprone, ambos a 2% em acetona, e antralina em concentração de 1 a 3%. Os corticóides têm seu lugar por via sistêmica para a alopecia areata universal, podendo ser prescrita nesse caso a prednisona na dose de 60 a 100mg/dia ou equivalente. A aplicação intralesional é eficaz nas placas individuais, enquanto as tópicas têm efeito discutível. Os rubefacientes, entre eles ácido salicílico, fenol, jaborandi, hidrato de cloral e cantaridina, têm efeito benéfico. Apesar de uso ainda controverso, Lassus & Eskelinema, em 1992, descreveram a melhora da alopecia areata com uma mistura de polissacárides de cartilagem de peixe, acerola e produtos de sílica (ViviscalÒ), tanto por via oral como em loção ou xampu.
O minoxidil a 2% é bastante eficiente para as lesões localizadas, enquanto a puvaterapia tem excelente efeito naquelas com mais de 50% de acometimento corpóreo. Imunossupressores, como a ciclosporina, também têm seu lugar nesse arsenal, além de ser possível utilizar associações de substâncias, como a antralina e o minoxidil, o minoxidil e corticóides tópicos ou intralesionais.
Bibliografia
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Drica, querida!
Muito Obrigada por mais um artigo! Muito bom, ótimo mesmo!
Beijos!
Olá Quênia, que bom que vc gostou do artigo.
Eu sou suspeita pra falar pq adoro ler esses artigos publicados em revistas científicas, infelizmente a maioria não é encontrado em português.
Mas vou traduzir os mais relevantes e trazer aqui pra gente discutir.
Bjinhos.
Drica